19/01/2010

Laika, torturada pela estupidez humana.


No dia 3 de Novembro de 1957, muito antes do homem pisar na lua, a União Soviética surpreendeu o mundo com o anúncio de uma missão espacial: o lançamento do satélite Sputnik II, com um cão a bordo. Mas muitos dos detalhes do que realmente aconteceu nessa missão só tornaram-se de conhecimento público décadas depois.

O Sputinik II

Após o êxito do Sputnik I, o líder soviético Nikita Khrushchev solicitou o lançamento de um segundo satélite artificial ao espaço para o dia do quadragésimo aniversário da revolução russa, em 7 de novembro de 1957. A decisão de lançar o satélite foi tomada entre 10 e 12 de outubro, e a equipe de construção tinha apenas quatro semanas para construir o novo artefato. A apressada construção do Sputnik II foi complicada em razão da pretensão de levar um animal vivo em seu interior.
A nave estava equipada com instrumentos para medir a radiação solar e os raios cósmicos, um sistema de geração de oxigênio acompanhado de sistemas para absorver dióxido de carbono, e outro para evitar o envenenamento por oxigênio. Instalou-se um ventilador que operava quando a temperatura da nave superava os 15 °C. Além disso, o satélite foi provido com comida (em forma gelatinosa) suficiente para um vôo de sete dias.
Também foi feito um traje espacial "especialmente" para Laika. O animal foi equipado com uma bolsa para armazenar suas fezes e urina, e com uma coleira que a prendia de maneira a limitar seus movimentos a de pé, sentada ou deitada, já que na cabine não havia espaço para dar voltas. A freqüência cardíaca de Laika podia ser monitorada na base espacial, e outros instrumentos mediam seu ritmo respiratório, pressão arterial e seus movimentos básicos.

"Treinamento"

Laika era uma cadela que vivia solta nas ruas de Moscou, pesava aproximadamente seis quilos e tinha três anos de idade quando foi capturada para o programa espacial soviético. Os cães capturados eram mantidos num centro de investigação nesta cidade, e três deles foram avaliados e treinados para as demandas da missão: Laika, Albina e Mushka.
Albina foi lançada duas vezes em um foguete para provar sua resistência nas grandes alturas, e Mushka foi utilizada para o teste da instrumentação e dos equipamentos de suporte vital. Laika foi selecionada para participar da missão orbital, e Albina como a principal substituta.
Seu treinamento estava a cargo do cientista Oleg Gazenko. O treinamento consistia em acostumar os cães ao ambiente que encontrariam na viagem, como o espaço reduzido da cápsula, os ruídos, vibrações e acelerações. Como parte do treinamento, a aceleração das decolagens era simulada através da força centrífuga imposta na cápsula onde os animais se introduziam. Durante estas atividades, seu pulso chegava a duplicar e sua pressão sanguínea aumentava em 30–65 torr.
A adaptação dos animais ao confinado espaço do Sputnik II exigiu que permanecessem em compartimentos cada vez menores por até vinte dias. O confinamento forçado provocou distúrbios nas funções excretoras dos animais, incrementando sua agitação e deteriorando sua condição física geral.

A "Missão"

Em 31 de outubro de 1957, três dias antes do lançamento, Laika foi colocada no Sputnik II, no cosmódromo de Baikonur, no atual Cazaquistão.
O Sputnik II foi lançado em 3 de novembro de 1957. Os sinais vitais da Laika eram seguidos telemetricamente por controle em terra. Ao alcançar a máxima aceleração depois da decolagem, o ritmo respiratório do animal aumentou de três a quatro vezes em relação ao normal, e sua freqüência cardíaca passou de 103 a 240 batimentos por minuto. Ao alcançar a órbita, a ponta cônica do Sputnik II desprendeu-se com sucesso. A outra seção da nave que deveria desprender-se (o "Blok A") não o fez, impedindo que o sistema do controle térmico funcionasse corretamente. Parte do isolamento térmico desprendeu-se, permitindo que a cápsula alcançasse uma temperatura interior superior a 40 °C. Após três horas de micro-gravidade, o pulso de Laika havia descido a 102 batimentos por minuto; esta descida na freqüência cardíaca havia tomado três vezes mais tempo que o experimentado durante o treinamento, o que indicava o alto estresse em que estava a cadela. Os dados telemétricos iniciais mostravam que, ainda que Laika estivesse agitada, estava comendo. A recepção de dados vitais parou entre cinco e sete horas depois da decolagem.

Mentiras/Fatos

No entanto, a informação que Moscou passou dizia que o animal se comportava calmamente em seu vôo espacial, e que em poucos dias Laika desceria à Terra, primeiro em sua cápsula espacial, e logo depois em pára-quedas. Todo mundo acreditava que o animal levava alimento suficiente e sua condição era estável, visto que muitas pessoas esperavam o regresso de Laika. Alguns idiotas aproveitavam para fazer brincadeiras: durante várias horas, a população de Santiago do Chile esteve convencida de que Laika havia caído na cidade. Os habitantes da zona suburbana viram descer um cão de pára-quedas, e eles se convenceram naquele momento de que se tratava de Laika. Quando o animal chegou em terra, se comprovou que na realidade se tratava de um cão macho, e a montagem não era mais que uma brincadeira para aproveitar-se da neurose coletiva das "cadelas voadoras".
O Sputnik II não estava preparado para regressar à Terra de forma segura, pelo que já se sabia, Laika não sobreviveria à viagem. Os cientistas soviéticos planejaram dar-lhe comida envenenada, que Laika consumiria depois de dez dias. No entanto, isso não ocorreu como planejado. Durante anos, a União Soviética deu explicações contraditórias sobre a morte de Laika, dizendo às vezes que a cadela havia morrido por asfixia quando as baterias falharam, ou que haviam feito eutanásia conforme os planos originais. Em 1999 fontes russas asseguraram que Laika sobreviveu pelo menos quatro dias, e depois pereceu por causa do superaquecimento da nave. Em outubro de 2002, o cientista Dimitri Malashenkov, que participou no lançamento do Sputnik II, revelou que Laika havia morrido entre cinco e sete horas depois da decolagem, devido ao estresse e superaquecimento. Ele declarou, num artigo que apresentou no Congresso Mundial do Espaço em Houston: "Foi praticamente impossível criar um controle de temperatura confiável em tão pouco tempo". O Sputnik II finalmente explodiu (junto com os restos de Laika) ao entar em contato com a atmosfera, em 14 de abril de 1958, após 163 dias e 2.570 órbitas em volta da Terra.

Resumindo...

Com o patético e hipócrita pretexto de "dar grandes passos pela humanidade" (camuflando diversos interesses políticos), a covardia e a ganância humanas torturaram a pobre Laika até a morte.
Por favor, imagine se fosse com você.
Imagine ser "treinado" por 20 dias a ficar enclausurado, mal podendo se mexer, ouvindo uma infinidade de barulhos altamente perturbadores em elevado volume, constantemente, com tudo ao seu redor tremendo e você sem ter a menor ideia do que se passa... e, após esse "treinamento", ser lançado em órbita, para poucas horas depois, num estágio de estresse e insanidade indescritível, morrer lentamente conforme a temperatura vai aumentando, passando dos 40, 50 graus...

Lamentável, triste, mas acima de tudo revoltante.
Nikita Khrushchev (líder soviético desequilibrado e com ideias deturpadas, cuja tirania em sua vida foi muito alem da crueldade para com a cadela Laika), eu adoraria ter vivido na sua época e ter te conhecido só para ensiná-lo uma lição, pois até hoje quando lembro a história de Laika, uma pergunta não sai da minha cabeça:

"Por que diabos não mandaram a sua mãe?!"

...

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